terça-feira, 21 de dezembro de 2021

GLOBALIZAÇÃO DOS FENÔMENOS CLIMÁTICOS

 Arthur Soffiati

Pelo censo de 2010, a população da cidade de Campos contava com 360.669 habitantes. Imaginem uma enchente que obrigasse 300 mil pessoas a saírem da cidade. Seria uma calamidade sem precedentes. Pois foi o que aconteceu nas Filipinas com o tufão Rai, que varreu extensa área neste dezembro de 2021. E observemos que, embora classificado na escala 5 e sendo considerado um super-tufão, o Rai pode ser comparado a um ventinho perto do supertufão Hayan, que varreu o extremo oriente em 2013, matando 7.300 pessoas. Se o Rai ou o Hayan ocorresse na Europa ou nos Estados Unidos, a imprensa escrita, falada e televisada transmitiria notícias aos borbotões, embora sem se concentrar no X da questão. Informaria quanto ao número de desabrigados, desaparecidos, mortos. Quanto aos bens materiais destruídos. Entrevistaria várias vítimas. Buscaria alguma curiosidade no meio da destruição, como, por exemplo, um cachorro que se salvou ou salvou alguém etc. Contudo, seriam poucos os artigos de análise.

Por acaso, nasci no Brasil. Poderia ter nascido em Marte ou Vênus? Até o momento, não existem informações sobre vida complexa nesses planetas. Mas poderia ter nascido na China, no Vietnã ou em qualquer outro lugar. Vivemos num mundo globalizado pelo capitalismo ocidental. Os Estados nacionais, criados no ocidente e exportados para o mundo, assim como a economia de mercado, começam a se tornar supérfluos. No entanto, existem focos de resistência paroquial. A imprensa é um deles. Os informativos se resumem aos assuntos locais em primeiro lugar. Depois, fornecem algumas notícia sobre o regional. O mundial merece breves notas ou é ignorado.

Grande parte da imprensa ignorou o Rai. É preciso recorrer à Internet para obter informações. Mesmo assim, as parcas notícias se resumem aos estragos, às medidas tomadas pelos governantes e aos depoimentos das vítimas. Pouco se fala que, em sua maioria, as tempestades tropicais no oceano Pacífico se formam entre julho e outubro. Que um tufão (nome dado aos furacões no extremo oriente) com a força do Rai, em dezembro, é atípico. Que as mudanças climáticas estão aumentando a força das tempestades tropicais. Que cerca de 20 tufões atingem o extremo oriente a cada ano, que Filipinas e Indonésia são os primeiros países a sofrerem com tais tempestades. Que elas se enfraquecem com o deslocamento para o interior. Que o local não pode mais ignorar o global nem vice-versa.

O tufão Rai, os tornados nos Estados Unidos, as chuvas no sul da Bahia e no norte de Minas Gerais, a grande seca que mata animais no Quênia e as ressacas que ocorrem no Farol e em Atafona são manifestações de um mesmo fenômeno: o aquecimento da atmosfera terrestre.

Enfim, a ficha ainda não caiu para a imprensa. O mundo não é mais o mesmo. Atualmente, o grito de uma pessoa emitido numa extremidade do mundo ecoa em todo o planeta. Ele precisa ser registrado e analisado pela imprensa, que ainda é paroquial.







TEMPESTADE NO DESERTO

Arthur Soffiati             Não me refiro ao filme “Tempestade no deserto”, dirigido por Shimon Dotal e lançado em 1992. O filme trata da ...