quarta-feira, 8 de setembro de 2021

O MAIOR INCÊNDIO DE 2021 (ATÉ AGORA) EM GALÍCIA

Arthur Soffiai

As mudanças climáticas não provocam apenas chuvas torrenciais e devastadores, mas também secas intensas e prolongadas. A realidade é que os continentes estão mais secos hoje do que ontem. Concorre para as estiagens a remoção da vegetação nativa de que dimensão for: herbácea, arbustiva e arbórea. E na extensão em que se apresentar. Desde uma árvore a uma floresta. Contribuem também para elas a extensão dos campos agrícolas e as pastagens. A urbanização é um dos fatores decisivos para aumentar incêndios, considerando ainda a cultura do uso do fogo. O cultivo do eucalipto em grande escala, como em Pedrogão (Portugal), tanto como a construção de núcleos urbanos que invadem vegetação nativa favorecem incêndios acidentais ou propositais praticados por humanos.  

A Terra arde. Em 2021, a orla do mar Mediterrâneo ardeu em chamas como nunca antes registrado. Todos os biomas da América do Sul sofreram com os incêndios, com destaque para a Amazônia e o Pantanal. Florestas do sul e do oeste dos Estados Unidos enfrentam, anualmente, incêndios cada vez mais devastadores. O mesmo pode-se verificar no Canadá, já zona temperada e dentro do círculo polar ártico.

Os incêndios assolam a África e a Ásia. Portanto, não causam estranheza os incêndios que afetaram Galícia recentemente. Foram o maior do ano de 2021 até agora. Chuvas providenciais trabalharam como bombeiros da natureza. Afinal, Galícia está num mundo cada vez mais seco e não fora dele. Devemos nos acostumar com a ideia de que os incêndios ocorrerão com mais frequência e com mais intensidade. Eles ressecarão mais ainda os solos, empobrecerão a biodiversidade (sobretudo os organismos responsáveis pela fertilidade do solo), destruirão casas e causarão prejuízos à economia.

Não reverteremos a aridez dos continentes da noite para o dia. Afinal, há cerca de 500 anos a economia de mercado vem produzindo uma crise ambiental planetária. Não se freia um trem em alta velocidade de forma repentina. Mas é preciso pará-lo aos poucos e mudar de rumo.



GALEGO

O cambio climático non só causa choivas torrenciais e devastadoras, senón tamén secas intensas e prolongadas. A realidade é que os continentes están hoxe máis secos que onte. Durante as secas, a eliminación de vexetación autóctona de calquera dimensión: herbácea, arbustiva e arbórea. E na medida en que se presenta. Dunha árbore a un bosque. A extensión de campos e pastos agrícolas tamén contribúen a eles. A urbanización é un dos factores decisivos para aumentar os incendios, tendo en conta a cultura do uso do lume. O cultivo a grande escala de eucaliptos, como en Pedrogão (Portugal), así como a construción de centros urbanos que invaden a vexetación autóctona favorecen os incendios accidentais ou deliberados practicados polos humanos.

A Terra arde. En 2021, as ribeiras do mar Mediterráneo estalaron en chamas como nunca se rexistrou. Todos os biomas de Sudamérica sufriron os incendios, especialmente no Amazonas e no Pantanal. Os bosques do sur e oeste dos Estados Unidos enfróntanse cada ano a incendios devastadores. O mesmo se pode ver en Canadá, xa unha zona temperada e dentro do círculo polar ártico.

Os incendios asolan África e Asia. Polo tanto, os incendios que afectaron recentemente a Galicia non sorprenden. Foron os máis grandes do ano 2021 ata o momento. As choivas providenciais funcionaron como bombeiros da natureza. Ao cabo, Galicia está nun mundo cada vez máis seco e non fóra del. Debemos acostumarnos á idea de que os incendios ocorrerán con máis frecuencia e intensidade. Secarán aínda máis os solos, empobrecerán a biodiversidade (especialmente os organismos responsables da fertilidade do solo), destruirán as casas e danarán a economía.

Non reverteremos a aridez dos continentes dun día para outro. Ao final, durante uns 500 anos a economía de mercado está a producir unha crise ambiental global. Non detés un tren a gran velocidade de súpeto. Pero é necesario detelo aos poucos e cambiar de rumbo.


https://www.lavozdegalicia.es/noticia/galicia/2021/09/07/sucesion-focos-provoco-mayor-incendio-ano-galicia/00031631038161639557403.htm?utm_campaign=manana&utm_medium=email&utm_source=acumbamail

 

domingo, 5 de setembro de 2021

NOVA ANTIGA ESPÉCIE

Arthur Soffiati

Nos primórdios do Holoceno, quando as mudanças climáticas foram profundas e as novas configurações ambientais substituíram as antigas, um novo mapa de ecossistemas marinhos, aquáticos continentais, vegetais nativos e faunístico se definiu. Com várias sociedades sedentarizadas graças à agricultura e ao pastoreio, o processo de destruição dos ecossistemas nativos se intensificou. Contudo, a visão sagrada do mundo proveniente do paleolítico, a reduzida população de Terra e a tecnologia rudimentar freavam os processos destrutivos.

Uma das mais simbólicas passagens da Epopeia de Gilgámesh narra a derrota do grande gigante Humbaba, que protegia uma floresta ao norte de Uruk, diante de Gilgámesh e Enkídu, seguida pelo desflorestamento. Sabemos que desmatamentos colossais foram efetuados no vale do Indo e na China. Contudo, tais agressões eram insuficientes para ameaçar as grandes massas florestais e os animais silvestres.

Só mesmo a civilização ocidental, que dessacralizou o mundo, promoveu a explosão demográfica e desenvolveu tecnologias devastadoras, conseguindo ameaçar os ecossistemas nativos do Holoceno. Os oceanos estão cada vez mais ácidos, poluídos e vazios de sua flora e fauna originais. A grande circulação de embarcações, de aviões e de pessoas promovida pela globalização ocidental está difundindo algumas espécies por suas águas. O nível dos mares está se elevando com a dilatação da água e com o derretimento de geleira. As biodiversidades regionais estão se empobrecendo e propiciando uma diversidade rala por todo o mundo, definida mais pelas temperaturas do planeta. Algumas espécies começam a ocupar as zonas tropicais, temperadas e frias dos oceanos e dos continentes.

Os ecossistemas de água doce em todo o mundo sofrem com a poluição líquida e sólida. A linearização dos ciclos do nitrogênio e de fósforo aumenta a eutrofização. A introdução de espécies exóticas acaba eliminando a rica biodiversidade original.

As florestas estão recuando na atualidade, sobretudo as tropicais. A Mata Atlântica foi reduzida a fragmentos dispersos pela sua antiga área. As florestas tropicais da Amazônia, da Indonésia e do Congo recuam rapidamente diante da motosserra e do correntão para a obtenção de lenha e madeira e para a abertura de espaço para a agricultura, a pecuária e as cidades. Periodicamente, o monitoramento mostra que o desmatamento cresceu ou diminuiu, mas, no cômputo geral, as áreas de floresta estão sofrendo veloz redução.

Muitas espécies vegetais estão ameaçadas de extinção, mas vou me limitar a uma espécie arbórea que os cientistas consideram nova. Trata-se da jueirana-facão (“Dinizia jueirana-facao”). É uma espécie antiga. Talvez mais antiga que o “Homo sapiens”. Provavelmente, os povos nativos do Brasil a conhecessem. No entanto, para a arrogância ocidental, uma espécie não conhecida não existe. Em vez de a considerarem desconhecida até o momento da identificação, o cientista a considera nova.

A jueirana-facão foi encontrada no Espírito Santo e tem uma parente do mesmo gênero da Amazônia: a “Dinizia excelsa”, identificada no início do século XX. Segundo os cientistas, a descoberta da árvore no Espírito Santo reforça a hipótese de que a Mata Atlântica se conectava à Amazônia. Desde que conheço os estudos de Ibsen Gusmão Câmara, não tenho dúvidas de que estes dois biomas se encontravam. Talvez ainda no princípio do século XX, essa conexão pudesse ser constatada a olho nu.

No entanto, o desmatamento sistemático reduziu a Mata Atlântica a cerca de dez por cento de sua área original e a separou da Amazônia, que também caminha para a extinção. É quase certo que Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica se comunicavam, com ecótonos intermediários nos quais espécies vegetais comuns a eles podiam ser encontradas e espécies animais transitavam pelos quatro pontos de encontro. Era um Brasil belo. Um dos mais belos conjuntos naturais do mundo. Tudo está em extinção. Os Campos Sulinos, o Pantanal, o Cerrado foram invadidos pelo chamado agronegócio, que é a agropecuária industrializada. Ele, o agronegócio, vem exercendo pressão contínua na Amazônia. Quanto à Mata Atlântica, a industrialização e a urbanização se incumbiram de erradicá-la.  

Nem bem a jueirana-facão foi encontrada no Espírito Santo e já é considerada uma espécie ameaçada de extinção.  Até o momento, foram encontrados dez exemplares dela na natureza. A árvore na fase adulta é portentosa. Conta com a altura máxima de 40 metros, perdendo para sua prima amazônica, que alcança 60 metros. A circunferência de seu tronco pode medir cinco metros, com uma copa de 20 metros de diâmetro.

Sua reprodução é difícil, como acontece com espécies arbóreas como ela. Seu destino talvez seja os jardins botânicos do mundo, que correspondem a museus de plantas vivas. Isso se o fogo não os destruir.



TEMPESTADE NO DESERTO

Arthur Soffiati             Não me refiro ao filme “Tempestade no deserto”, dirigido por Shimon Dotal e lançado em 1992. O filme trata da ...