segunda-feira, 22 de novembro de 2021

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E ESCORPIÕES

Arthur Soffiati

Quando eu morava no Parque Leopoldina, avistei ao longe, na sala quase escura, algo que se movimentava no chão. Aproximei-me lentamente e acendi a luz. Era um escorpião. Poderia ter me picado se eu não fosse cuidadoso, pois estava descalço. Não o matei. Ao contrário, colhi-o num recipiente e o levei para análise da FEEMA, hoje INEA. De onde ele teria saído, se não era um invertebrado doméstico comum, como baratas e formigas? Concluí logo que sua aparição devia-se a uma mudança ambiental, por menor que fosse.

Uma investigação rápida levou a uma casa fechada, sem moradores, no quintal da qual havia uma pilha de madeira seca e apodrecida. O tempo estava quente. É o ambiente ideal para escorpiões. Eles saíam de lá para caçar seu alimento e apareciam nas casas vizinhas. O primeiro passo foi pulverizar um veneno no monte de madeiras. Vários apareceram mortos, mesmo sendo o escorpião um aracnídeo resistente. O segundo passo foi desfazer a pilha de madeira.

Leio agora uma notícia nos jornais do exterior que costumo acompanhar dando conta de que uma tempestade completamente atípica provocou enchentes em Assuã, sul do Egito. O lugar fica no deserto mais seco do mundo. A média anual de chuva é de apenas um milímetro. O que salva a cidade é ter se erguido às margens do rio Nilo e contar com a umidade do mar Vermelho. Em Campos, a média anual chega perto de 1000 mm. Os produtores rurais do norte-noroeste fluminense deixariam de pedir recursos para a região a fim de combater a seca progressiva se visitassem Assuã. 

Aspecto da cidade de Assuã

Como nas pragas que assolaram o Egito bíblico, não foi só uma enchente que causou estragos em Assuã. As intensas chuva expulsaram milhares de escorpiões-negros ou de cauda gorda de suas tocas no deserto. Eles invadiram a cidade, picando mais de 500 pessoas. Essa espécie é uma das mais venenosas entre os escorpiões. Os cientistas a batizaram de Androctonus crassicauda, que significa “matador de homens”. De fato, seu veneno pode matar um adulto em uma hora. O escorpião era um animal sagrado no Egito Antigo.

Escorpião negro do deserto

Normalmente, várias pessoas são picadas por essa espécie de escorpião, mas com essa invasão provocada pela tempestade  do dia 12/11 último, eles atacaram em massa. 500 pessoas receberam o soro anti-veneno e foram internadas.  Não se deve jogar a culpa nos escorpiões. Eles não picam por maldade. Eles foram criados assim. É da natureza deles picar, como conta a historinha moral. O problema veio da tempestade que os expulsou de suas tocas e que destruiu parcial ou totalmente 103 casas pelo menos. A navegação no canal de Suez foi afetada pela interrupção de energia.

Espécie de escorpião encontrada no Brasil

Mais uma manifestação das mudanças climáticas extremas, como afirmam os especialistas. Mas, como a enchente não ocorreu entre nós, os jornais não a noticiaram. A Assuã do norte fluminense parece ser São Francisco de Itabapoana, onde várias pessoas já foram picadas e algumas morreram. Mas lá parece ser o ambienta árido e o calor os fenômenos climáticos que expulsam o bicho para cima das pessoas. As mudanças climáticas extremas afetam todo o planeta, mas de formas diferentes.  

Assuã em meio ao deserto

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