Arthur Soffiati
Fernanda Merchor. “Temporada de furacões” (São Paulo: Mundaréu, 2020). O livro de Fernanda Merchor caminha no realismo e no regionalismo, mas não no sentido tradicional. Passado numa pequena cidade do interior do México e arredores, o realismo é temperado com uma pitada de magia, ao focalizar a história de um homossexual travestido de bruxa que é assinado por homens jovens interessados na sua suposta riqueza. Essa pitada parece vir de Gabriel Garcia Marques, a seguir a declaração da própria autora em nota do final. O regionalismo não é o de Graciliano Ramos nem o dos regionalistas brasileiros que dominaram a literatura entre 1930 e 1955. É o regionalismo esgarçado de Ronaldo Correia de Brito. O regional já está contaminado pelo global. Televisão, celular, empresa multinacional de petróleo ao lado da plantação de cana e da fabricação de aguardente. Pobreza, prostituição, drogas, homossexualismo, doença e violência, muita violência pública e privada, crendices. A própria maneira de escrever da autora retrata essa violência crua. A autora não tem papas na língua. O romance não pede sutileza em termos de sexualidade e violência. Escrita densa e cerrada, sem parágrafos do princípio ao fim. Há pontos, mas não parágrafos.
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