Arthur Soffiati
Um
pequeno ciclone nos Estados Unidos ou chuvas pouco volumosas na Europa
ocidental merecem registro nos noticiários de todo o mundo. No Brasil, as redes
de notícia se concentram, nesse momento, no Rio Grande do Sul. De fato, nunca
se presenciou uma catástrofe climática de tamanha proporção no Brasil e talvez
na América do Sul. Mas parece, no entendimento desses noticiários, que a chuva
se limitou às fronteiras do estado. Nada é informado sobre chuvas no Uruguai e no
norte da Argentina, que também foram volumosas e destruidoras.
Se
os deslizamentos ocorridos em Papua Nova Guiné merecem uma pequena notícia nos
jornais do Brasil, é porque eles assumiram proporções gigantescas. Não dá para
ignorar o elefante no meio da sala. Depois de ser colônia de países europeus,
Papua Nova Guiné tornou-se um país independente em 1975, com capital em Port
Moresby. O país ocupa a metade oriental da ilha da Nova Guiné, na Oceania, e
inclui alguns pequenos arquipélagos. A outra metade pertence à Indonésia. A
ilha como um todo, antes da chegada dos europeus, foi um dos poucos polos da
agricultura no mundo. Lá, a banana foi cultivada pela primeira vez e ganhou as
ilhas da Oceania. Mas os europeus queriam seus minérios.
A
diversidade cultural do país é a maior do mundo. Num espaço pequeno, são
faladas mais de 800 línguas. Algumas já despareceram por falta de falantes. E a
população gira em torno de 7 milhões de habitantes. O espectro do canibalismo
ainda ronda a ilha, mais por lendas criadas no ocidente do que por comprovações.
Havia a tradição de ingerir a carne de parentes depois de mortos. O que vigora
mesmo são modos de vida tradicionais. O país cresce em ritmo vertiginoso com a
mineração, mas a população, em sua grande maioria pobre, não se beneficia com
esse crescimento. Mais de 80% dela vive em áreas rurais. Muitos filmes que
desejam explorar o exotismo são passados no país. Sua fauna e flora ainda são
bastante desconhecidas.
Hoje,
Papua Nova Guiné integra o Reino Unido. Tem independência como a Austrália e o
Canadá, mas seu chefe de Estado é o rei da Inglaterra. No final de maio de
2024, ocorreu, no interior do país, um grande deslizamento que soterrou uma
aldeia. Com um mês de chuvas, alagamentos e transbordamentos no Rio Grande do
Sul, morreram em torno de 180 pessoas até agora. Os desaparecidos devem ter
morrido também. Em Papua Nova Guiné, estima-se que morreram mais de 2.000 pessoas no dia do desastre. Mas o país é
pouco conhecido no mundo e até internamente. Consta que choveu muito. A água
das chuvas teria se infiltrado numa encosta. Ela sofreu deslizamento e soterrou
uma aldeia situada ao pé do monte. Até mesmo no campo das informações há
desigualdades. O governo do país e a ONU não têm dados detalhados do que
aconteceu. A aldeia situava-se no interior do país. Tudo isso nos leva a
concluir que a vida de um estadunidense ou de um israelense vale mais que a de
um porto-riquenho ou de um palestino.
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