Arthur Soffiati
Nos primórdios do Holoceno, quando as mudanças climáticas foram profundas e as novas configurações ambientais substituíram as antigas, um novo mapa de ecossistemas marinhos, aquáticos continentais e vegetais nativos se definiu, assim como uma nova biodiversidade animal. Com várias sociedades sedentarizadas graças à agricultura e ao pastoreio, o processo de destruição dos ecossistemas nativos começou para o plantio e a criação de animais. Contudo, a visão sagrada do mundo proveniente do paleolítico, a reduzida população de Terra e a tecnologia rudimentar freavam os processos destrutivos.
Uma das mais simbólicas passagens da “Epopeia de Gilgámesh” narra a derrota do grande gigante Humbaba, que protegia uma floresta ao norte de Uruk, frente a Gilgámesh e Enkídu, seguida pelo destruição da floresta. Sabemos que desmatamentos colossais foram efetuados no vale do Indo e na China. Contudo, tais agressões eram insuficientes para ameaçar as grandes massas florestais e os animais silvestres.
Só mesmo a civilização ocidental, que dessacralizou o mundo, promoveu a explosão demográfica e desenvolveu tecnologias devastadoras conseguiu ameaçar os ecossistemas nativos do Holoceno. Os oceanos estão cada vez mais ácidos, poluídos e esvaziados de sua flora e fauna originais. A grande circulação de embarcações, de aviões e de pessoas promovida pela globalização ocidental está difundindo algumas espécies por suas águas. As biodiversidades regionais estão se empobrecendo e propiciando uma diversidade pobre por todo o mundo, definida mais pelas temperaturas do planeta. Algumas espécies começam a ocupar as zonas tropicais, temperadas e frias dos oceanos.
Os ecossistemas de água doce em todo o mundo sofrem com a poluição líquida e sólida. A linearização dos ciclos do nitrogênio e de fósforo aumenta a eutrofização. A introdução de espécies exóticas acaba eliminando a rica biodiversidade original.
As florestas estão recuando na atualidade, sobretudo as tropicais. A Mata Atlântica foi reduzida a fragmentos dispersos pela sua antiga área. As florestas tropicais da Amazônia, da Indonésia e do Congo recuam rapidamente diante da motosserra e do correntão, que obtêm lenha e madeira e que abrem espaço para a agricultura, a pecuária e as cidades. Periodicamente, o monitoramento mostra que o desmatamento cresceu ou diminuiu, mas, no cômputo geral, as áreas de floresta estão sofrendo veloz redução.
O monumental cedro do Líbano foi muito usado na antiguidade para a fabricação de embarcações, mobiliário e construções diversas. Seus bosques no Oriente Médio foram drasticamente reduzidos com a ocidentalização. Mesmo assim, a espécie não foi totalmente dizimada. No entanto, um novo inimigo aparece para ela: as mudanças climáticas antrópicas. Tais mudanças não são naturais, mas sim provocadas pelas atividades humanas coletivas de um mundo ocidental, como a própria inviabilização dos oceanos como absorsores de gás carbônico e produtor de oxigênio, a destruição de florestas (que desempenham o mesmo papel dos oceanos), com a expansão da agropecuária, com a urbanização, com as indústrias poluentes, com as hidrelétricas e com a urbanização.
Exemplar de cedro do Líbano
Estamos encurralando os ambientes naturais como se faz com o gado e como se fazia com animais a serem caçados de forma dizimadora. Outrora abundante, o cedro do Líbano vai se tornar espécie rara de jardins botânicos.
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