quinta-feira, 4 de maio de 2023

ERVA BRAVA

 

Arthur Soffiati

Apresentada por Itamar Vieira Júnior (que parece convidado por autores novos desejosos de respaldo), Paulliny Tort lança “Erva brava” (São Paulo: Fósforo, 2021), seu primeiro livro de contos (virão outros?). Todas as narrativas se passam no vilarejo de Buriti Pequeno, onde o rio Amanaçu está bastante presente. Buscará a autora alguma espécie de retorno à literatura regionalista? Em parte sim, em parte não. Seus tipos são interioranos, mas “O rio Amanaçu agora fede, às vezes mais que fossa. Ficou assim depois das granjas de galinha e de porco, que despejam o mingau dos esterqueiros na água [...] a vila apodrece e os peixes morrem afogados na merda.” O interior do Cerrado seria assim uma espécie do atual sertão nordestino de Ronaldo Correia de Brito? Também não porque falta à autora a força do escritor pernambucano. É possível que uma vila do interior de Goiás apresente motivos para doze contos? Claro que sim. Com talento, pode-se escrever muitos contos sobre uma casa habitada ou não.

Por enquanto, Paulliny Tort não se insere na trilha de Hugo de Carvalho Ramos, Bernardo Élis (no livro, há um conto que parece ser inspirado nele), José J. Veiga, Davi Arriguci Jr e Ricardo Guilherme Dick, todos eles oriundos do Centro-Oeste do Brasil. Mas é cedo. Tort foi semifinalista do Prêmio Oceanos de 2017 com seu romance de estreia “Allegro ma non troppo” Da minha parte, deixo lavrado meu descontentamento com a literatura brasileira atual.

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