Arthur Soffiati
1500 é o ano em que os portugueses
chegaram a uma terra que batizaram de Brasil. Não existiam ainda os atuais
Farol, Campos, Norte-Noroeste fluminense, rio de Janeiro e um país chamado
Brasil. As águas, porém, já circulavam no Farol de hoje em dia. Só que de
maneira diferente. As águas vinham da lagoa de Cima pelos rios Ururaí e Paraíba
do Sul até a lagoa Feia. Não só pela superfície, mas também de forma
subterrânea. Daí, saíam da lagoa Feia por vários braços e formavam um rio que
foi chamado de Iguaçu no século XVII. Esse rio chegava ao mar depois de receber
também águas que transbordavam do rio Paraíba. Ele se transformou na atual
lagoa do Açu depois de muitas obras de canalização e drenagem efetuadas no
século XX.
Da lagoa Feia, partiam também vários braços que formavam um rio menor que o Iguaçu. Era o lindo rio Bragança. Ele também desembocava no rio Iguaçu e, quando ficava muito cheio, abria uma barra no mar com muito esforço. Em tempos normais, ele engrossava na foz, formando o Lagamar. O sistema funcionava como mostra o mapa abaixo.
Em 1688, o capitão José de Barcelos Machado, grande proprietário rural, entendeu que a foz do rio Iguaçu podia se localizar abaixo da lagoa Feia e abriu uma vala que foi chamada de Furado. Ela funcionava quando as águas das chuvas se acumulavam no continente. Então, por meio do trabalho escravo, a vala era aberta para que as águas escoassem mais rapidamente para o mar. O rio Iguaçu, contudo, continuou existindo, só que com menos força. Ele também fechava sua barra quando a água perdia força.
O rio Bragança foi tão cortado
por obras de drenagem que não mais existe. O Lagamar não tem mais força para
abrir sua barra e chegar ao mar. A lagoa do Açu desenvolveu outro equilíbrio.
De rio, transformou-se em lagoa. Em toda a extensão do Farol, o nível do lençol
freático é alto, sobretudo no Açu.
Quando chove muito, a água se acumula em todas as lagoas que restaram na costa que vai da lagoa de Gruçaí a Barra do Furado. Levemos em conta que as chuvas estão mais abundantes que no passado porque o aquecimento da Terra está aumentando por conta dos gases do efeito-estufa, liberados por atividades humanas. A evaporação das águas oceânicas é maior. Quando uma massa fria se forma na atmosfera, o vapor d’água se transforma em água líquida e cai em grande profusão sobre os continentes. Esse fenômeno pode acontecer até nos desertos, como ocorreu recentemente no Saara.
Como o canal da Flecha
centralizou o escoamento de água continental para o mar, ele tem se mostrado
insuficiente para lançar toda chuva que se precipita na região. Então, a
principal solução encontrada é abrir a barra das lagoas de Gruçaí, Iquipari e
Açu. Trata-se de uma solução emergencial para aliviar a vida dos moradores da
zona costeira entre o Paraíba do Sul e Barra do Furado, mas provoca um choque
ambiental nessas lagoas que já foram rios no passado. Estamos vivendo essa
situação com as volumosas e contínuas chuvas nos estados do Rio de Janeiro e Espírito
Santo.
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