Arthur Soffiati
Os
portugueses chegaram ao oceano Índico no fim do século XV com Vasco da Gama.
Estava aberta uma porta para a conquista de colônias. Mais de forma violenta
que pacífica, Portugal abriu caminho para outros países europeus constituírem
colônias no mesmo oceano. A mais importante possessão portuguesa foi Goa, na
Índia. Durante cinco séculos, ela foi a capital do império português no
oriente, constituído por Damão e Diu, também na Índia, Ormuz (por pouco tempo
na entrada do golfo Pérsico), Malaca, Macau e Timor. Moçambique, na África
oriental, também ficava sob a jurisdição de Goa.
Aos
poucos, Portugal foi perdendo suas colônias na Ásia. Ormuz durou pouco tempo. A
Holanda conquistou Malaca já no século XVII. Em 1961, a Índia independente
reintegrou Goa, Damão e Diu a seu território. Moçambique conquistou a
independência em 1975. Timor se tornou independente em 2002, depois de um
processo traumático. Macau voltou a ser da China em 1999 por um acordo
pacífico. Trata-se de uma cidade na foz do rio das Pérolas que vive do jogo. Na
outra margem do rio, situa-se Hong-Kong, que pertenceu à Inglaterra e também
voltou ao domínio chinês.
Vem
ao caso Macau, onde as marcas materiais portuguesas foram muito fortes. O
português era também a língua oficial, embora se falasse chinês e um português
popular (o patuá de Macau). A literatura produzida em Macau era, em sua maior
parte, escrita em português. Após voltar à China como Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), a cidade estimulou mais ainda os jogos de
azar e se tornou uma espécie de Las Vegas do oriente. A cidade foi ampliada
sobre aterros. Tornou-se um centro urbano extremamente moderno, mas, para
conseguir espaço, destruiu o ambiente natural. As ilhas de Coloane e Taipa
foram ligadas por um grande aterro, que recebeu o nome de Cotai (iniciais dos
nomes das ilhas).
Macau atualmente
Agora, três cientistas
chineses publicaram um artigo mostrando como esses aterros foram prejudiciais
ao meio ambiente. Especialmente aos golfinhos e aos mangais, palavra usada lá
para denominar mangues ou manguezais. Como bons acadêmicos, os três cientistas
reconhecem a importância dos aterros para a economia. Uma martelada no prego e
outra na ferradura.
Aterros em Macau
A
cidade avançou sobre o estuário do rio das Pérolas e agora está ameaçada pelo
avanço do mar sobre ela como em vários outros pontos costeiros do mundo. Existem
quatro fenômenos conjugados a ameaçarem a zona costeira: a elevação progressiva
do nível do mar pelas mudanças climática, os aterros, a supressão da vegetação nativa
e a urbanização. Macau é exemplo dessa conjugação.
Macau no século XIX: Praia Grande
Seja
mangue, mangal ou manguezal, a importância desse ecossistema estuarino
intertropical está tendo sua importância reconhecida pela ciência para atenuar
o aumento das tempestades marinhas e absorver gás carbônico. Contudo, ele está
ameaçado pelo avanço da urbanização principalmente.
Hong-Kong
e Macau se situam no sul do país, na província de Guangdong (Cantão). A China é
um dos maiores países do mundo em território, população e economia. É um país
capitalista envergonhado. Não assume claramente sua condição econômica, embora
a expressão “made in China” seja comum no mais simples objeto vendido ao mundo.
Um
levantamento recente mostrou que as temperaturas médias de Macau vêm subindo
0,09 graus Celsius a cada dez anos desde 1952, quando foi criada a Direção dos
Serviços Meteorológicos e Geofísicos, ainda sob controle português. O ano de
2019 foi o mais quente da série, sendo 2020 o segundo. O ano de 2023 superou
todos no plano mundial. Pelo menos, reconhece-se na China que a elevação das
temperaturas decorre da ação humana coletiva na superfície da Terra.
Planta de Macau no século XVII
Como
disse David Gonçalves, diretor do Instituto de Ciências e Ambiente, da
Universidade São José, Macau não destoa dos índices climáticos da província de
Guangdong e da China, embora o consumo médio per capita de energia em Macau
seja mais elevado que o de Hong-Kong e da China. No relatório “Implementação da
Contribuição Nacionalmente Determinada da China”, encaminhado à ONU em 2021,
Macau é uma área severamente ameaçada por fenômenos climáticos extremos. Macau
está na rota dos perigosos tufões que ocorrem com frequência no extremo
Oriente.
Mangal ameaçado em Macau
Mas
o relatório é apenas uma satisfação formal à ONU. A China tem pés de chumbo e
deixa pegadas ecológicas profundas na Terra. Ela se comporta como quase todos
os países do mundo: reconhece a crise ambiental e as mudanças climáticas,
reconhece que tomará medidas para reduzi-las na parte que lhe cabe, mas
acentuará mais ainda o peso da pegada ecológica.
David
Gonçalves ainda conta com liberdade para afirmar que a pegada ecológica de
Macau é muito alta por consumir excessivamente energia fóssil importada.
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