segunda-feira, 15 de abril de 2024

NOTÍCIAS DE MACAU

 Arthur Soffiati

            Os portugueses chegaram ao oceano Índico no fim do século XV com Vasco da Gama. Estava aberta uma porta para a conquista de colônias. Mais de forma violenta que pacífica, Portugal abriu caminho para outros países europeus constituírem colônias no mesmo oceano. A mais importante possessão portuguesa foi Goa, na Índia. Durante cinco séculos, ela foi a capital do império português no oriente, constituído por Damão e Diu, também na Índia, Ormuz (por pouco tempo na entrada do golfo Pérsico), Malaca, Macau e Timor. Moçambique, na África oriental, também ficava sob a jurisdição de Goa.

            Aos poucos, Portugal foi perdendo suas colônias na Ásia. Ormuz durou pouco tempo. A Holanda conquistou Malaca já no século XVII. Em 1961, a Índia independente reintegrou Goa, Damão e Diu a seu território. Moçambique conquistou a independência em 1975. Timor se tornou independente em 2002, depois de um processo traumático. Macau voltou a ser da China em 1999 por um acordo pacífico. Trata-se de uma cidade na foz do rio das Pérolas que vive do jogo. Na outra margem do rio, situa-se Hong-Kong, que pertenceu à Inglaterra e também voltou ao domínio chinês.

            Vem ao caso Macau, onde as marcas materiais portuguesas foram muito fortes. O português era também a língua oficial, embora se falasse chinês e um português popular (o patuá de Macau). A literatura produzida em Macau era, em sua maior parte, escrita em português. Após voltar à China como Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), a cidade estimulou mais ainda os jogos de azar e se tornou uma espécie de Las Vegas do oriente. A cidade foi ampliada sobre aterros. Tornou-se um centro urbano extremamente moderno, mas, para conseguir espaço, destruiu o ambiente natural. As ilhas de Coloane e Taipa foram ligadas por um grande aterro, que recebeu o nome de Cotai (iniciais dos nomes das ilhas).

Macau atualmente

Agora, três cientistas chineses publicaram um artigo mostrando como esses aterros foram prejudiciais ao meio ambiente. Especialmente aos golfinhos e aos mangais, palavra usada lá para denominar mangues ou manguezais. Como bons acadêmicos, os três cientistas reconhecem a importância dos aterros para a economia. Uma martelada no prego e outra na ferradura.

Aterros em Macau 

            A cidade avançou sobre o estuário do rio das Pérolas e agora está ameaçada pelo avanço do mar sobre ela como em vários outros pontos costeiros do mundo. Existem quatro fenômenos conjugados a ameaçarem a zona costeira: a elevação progressiva do nível do mar pelas mudanças climática, os aterros, a supressão da vegetação nativa e a urbanização. Macau é exemplo dessa conjugação.

Macau no século XIX: Praia Grande 

            Seja mangue, mangal ou manguezal, a importância desse ecossistema estuarino intertropical está tendo sua importância reconhecida pela ciência para atenuar o aumento das tempestades marinhas e absorver gás carbônico. Contudo, ele está ameaçado pelo avanço da urbanização principalmente.

            Hong-Kong e Macau se situam no sul do país, na província de Guangdong (Cantão). A China é um dos maiores países do mundo em território, população e economia. É um país capitalista envergonhado. Não assume claramente sua condição econômica, embora a expressão “made in China” seja comum no mais simples objeto vendido ao mundo.

            Um levantamento recente mostrou que as temperaturas médias de Macau vêm subindo 0,09 graus Celsius a cada dez anos desde 1952, quando foi criada a Direção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos, ainda sob controle português. O ano de 2019 foi o mais quente da série, sendo 2020 o segundo. O ano de 2023 superou todos no plano mundial. Pelo menos, reconhece-se na China que a elevação das temperaturas decorre da ação humana coletiva na superfície da Terra.


Planta de Macau no século XVII 

            Como disse David Gonçalves, diretor do Instituto de Ciências e Ambiente, da Universidade São José, Macau não destoa dos índices climáticos da província de Guangdong e da China, embora o consumo médio per capita de energia em Macau seja mais elevado que o de Hong-Kong e da China. No relatório “Implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada da China”, encaminhado à ONU em 2021, Macau é uma área severamente ameaçada por fenômenos climáticos extremos. Macau está na rota dos perigosos tufões que ocorrem com frequência no extremo Oriente.

Mangal ameaçado em Macau

            Mas o relatório é apenas uma satisfação formal à ONU. A China tem pés de chumbo e deixa pegadas ecológicas profundas na Terra. Ela se comporta como quase todos os países do mundo: reconhece a crise ambiental e as mudanças climáticas, reconhece que tomará medidas para reduzi-las na parte que lhe cabe, mas acentuará mais ainda o peso da pegada ecológica.

            David Gonçalves ainda conta com liberdade para afirmar que a pegada ecológica de Macau é muito alta por consumir excessivamente energia fóssil importada. 

 

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