Arthur Soffiati
Não me
refiro ao filme “Tempestade no deserto”, dirigido por Shimon Dotal e lançado em
1992. O filme trata da “Guerra do Golfo”, travada em 1991 por uma coalização de
países liderada pelos Estados Unidos contra Saddam Hussein no Golfo Pérsico. Refiro-me
a outro tipo de guerra: da humanidade contra a natureza. A economia ataca de
forma difusa e a natureza responde de forma pontual ou global.
Estou me reportando às chuvas que se abateram
no dia 16 de abril de 2024 sobre os Emirados Árabes e sobre Omã, países que se
constituíram no deserto da Arábia, um dos mais secos do mundo. A média de chuva
por lá gira em torno dos 200 mm por ano. É quase a quinta parte do que chove
anualmente no norte fluminense. Mas, em 24 horas, desabou um volume de chuva maior
que 250mm. É como se toda a chuva de um ano e um pouco mais caísse num só dia.
Aventou-se a
hipótese de que esse pé d’água tivesse sido provocado por bombardeios de nuvens
por aviões, algo muito comum nos Emirados para diminuir a secura. Mas foi chuva
de verdade, já prevista pelos institutos meteorologia. As cidades e as rodovias
modernas que lá se ergueram com dinheiro do petróleo ficaram alagadas. Dubai
ficou embaixo d’água por três dias. Um dos mais movimentados aeroportos do
mundo cancelou mais de mil voos. Morreram 22 pessoas. É o mesmo petróleo que,
queimado como combustível, produz gases que aquecem a atmosfera do planeta e
desregulam o clima. Está certo que abril é um mês menos seco no deserto, mas
não com uma chuva descomunal como essa de 16/04.
Os jornais
noticiam com pequenas notas (quando noticiam), de preferência mostrando o
fenômeno como algo bastante curioso, como um animal exótico. Um gatinho
agarrado à maçaneta de um automóvel, tentando escapar da água, é a atração
principal. Nos países desse deserto, as medições climáticas começaram em 1949.
Não há registro de fenômeno tão intenso desde então.
Por outro lado, a temperatura mais alta no Círculo Polar Ártico foi registrada na cidade de Verkhoyansk, Sibéria russa, em junho de 2020. Foram 38°C. Enquanto isso, a gente fica assistindo às moças e moços do tempo falarem nos telejornais sobre temperaturas dentro do Brasil, como se o mundo se reduzisse ao país. Nos Estados Unidos e em qualquer outro país acontece isso. Os jornais impressos dão uma pequena nota, quando muito. Alguns chamam a atenção para os fenômenos climáticos. São os chatos dos ambientalistas. Falam para ninguém. A vida segue como se nada tivesse acontecendo. A maioria agradece a Deus por se salvar de inundações e deslizamentos, lamentando a morte de pessoas. As autoridades agem pontualmente até a próxima catástrofe.
Inundação de Dubai, abril de 2024
Piquenique no Paraíba? Não, no
Polo Norte
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