domingo, 7 de fevereiro de 2021

O CHOCALHO DA CASCAVEL - VAGINA DENTADA

Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 03 de fevereiro de 2021 O chocalho da cascavel Edgar Vianna de Andrade Numa escola conservadora de uma pequena e também conservadora cidade dos Estados Unidos, uma professora de biologia ensina que, pela perspectiva evolucionista, a cascavel desenvolveu um chocalho para alertar os animais grandes a não pisarem nela. Esse guizo pode ter aparecido de forma completa como resultado de uma mutação genética que se mostrou útil ao animal e foi repassada a outras gerações. A moça loira e bonitinha ouve tudo em silêncio. Quando pequena, brincando com seu irmão também criança, ela lhe cortou a ponta do dedo de forma misteriosa. Eles cresceram. Ela sintonizou-se com o moralismo da cidade e da escola, tornando-se defensora da virgindade antes do casamento. Deve-se usar um anel preto no anular esquerdo até que ele seja substituído definitivamente por uma aliança de ouro. Em palestras para jovens, ela defende a pureza para moças e rapazes. Por outro lado, seu irmão se tornou um devasso. Mas, sentir atração, namorar e trocar uns beijinhos pode. É o que acontece quando ela conhece um rapaz. Ele se passa por moralista para enganar a moça e ter com ela relação sexual. Numa caverna às margens de um lago, ela mesma atrai o rapaz desejando apenas namorar. Ele deixa cair a máscara e tenta estuprá-la. Mas algo terrível acontece: o pênis do rapaz é decepado e ele foge para nunca mais ser visto. A moça corre apavorada e começa a buscar uma explicação para o acontecido. Os livros de educação sexual da escola traziam a foto de vaginas com uma tarja colada. A moça coloca o livro n’água e desprende a tarja para conhecer algo que ela tem no corpo mas nunca viu. No computador, ela encontra o mito bastante difundido da vagina dentada. O homem que vencer aquela outra boca será considerado um herói e conseguirá ter relações sexuais com a moça sem risco. Ela volta a caverna e encontra o pênis sendo comido por um caranguejo assim como, num filme a que a mãe assistia, um escorpião gigante captura um homem. Buscando pela primeira vez um ginecologista, ela corta quatro dedos dele quando a examinava e foge apavorada, disposta a se entregar à polícia. Mas sua mãe é internada e acaba morrendo. Seu irmão tem um desentendimento com o pai e lança seu cão bravio sobre ele. O pai acaba com um grave ferimento no pescoço. A moça busca o conselho de um amigo que lhe dá uma droga e esconde suas roupas. Meio grogue, ela aceita bebida do rapaz e acaba na cama com ele, acreditando em suas belas palavras. Nada acontece quando ela se sente amada, mas quando ela descobre que o rapaz apostou com outro que conseguiria seduzi-la, a boca de cima diz o que fará a boca de baixo. Mais um pênis decepado. Falta apenas o irmão, que também acaba perdendo o seu. Numa passagem hilária, seu cão come o que foi cortado. Fugindo de tudo numa bicicleta, aparece um defeito e ela é obrigada a pedir carona. Um homem idoso para o carro. A idade é garantia de que nada ocorrerá, mas ele quer sexo oral com ela. Presa dentro do carro, ela não oferece resistência e esboça um sorriso maligno. O velho terá sua língua decepada. Dawn O'Keefe, a moça loira, é como a cascavel. A mutação criou nela uma vagina diferente. Algo novo que não precisa ser aperfeiçoado aos poucos. Não pisem nela. É perigoso para cobras invasoras. Em síntese, esse é o enredo de “A vagina dentada” (“Teeth”), dirigido Mitchell Lichtenstein e lançado em 2007. Por nenhum critério, ele pode ser considerado um filme B ou trash, embora realizado com baixo orçamento. Jess Weixler, atriz protagonista, cresce como artista à medida em que descobre seu mistério. No princípio sentindo-se culpada pela reação involuntária do seu corpo, ela passa a usar sua cartilagem afiada para castigar os homens que só desejam sexo. Já existe, inclusive, o Rapex, um preservativo feminino antiviolação que agride o pênis indesejado. O filme pode muito bem merecer continuação. Ele e a atriz foram premiados. Eu não teria restrições em exibi-lo num cineclube.

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