quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

FLORESTA É O NOME DO MUNDO - URSULA K. L. GUIN

Arthur Soffiati 

“Floresta é o nome do mundo”, de Ursula K. Le Guin foi publicado em 1972, ano da Conferência de Estocolmo, verdadeiro marco da discussão acerca das questões ambientais ainda hoje. Só em 2020, chegou ao Brasil (São Paulo: Morro Branco). Trata-se ficção científica. Utopia ou distopia? Talvez nenhum dos dois. Talvez literatura meio distópica. A grande inspiração vem da expansão marítima europeia, das invasões, conquistas, colonizações, conflitos com nativos, massacres e destruição da natureza.

Esgotados os recursos naturais da Terra, seus habitantes vão para o espaço no sentido literal. Um dos mundos extraterrestres conquistados recebe o nome de Novo Taiti. O povo originário é constituído por seres pequenos, com corpo coberto de pelos verdes. O planeta é coberto por florestas. O que os terráqueos cobiçam é madeira. Ela vale mais do que ouro naquele momento do futuro. A globalização agora não se limite mais à Terra. Ela se expande para outros planetas, como se assiste agora com a exploração espacial. O domínio dos homens em Novo Taiti assume um caráter político na escrita de Ursula. As mulheres são importadas para casar ou para a prostituição. São as Noivas Coloniais e as Recreadoras. “Organizando e limpando, derrubando as florestas sombrias para a plantação de grãos, eliminando a escuridão, a selvageria e a ignorância primitivas, aquilo seria um paraíso, um verdadeiro Éden. Um mundo melhor do que a Terra devastada.” Sim, porque “Novo Taiti era, em sua maior parte: água, mares rasos e quentes interrompidos aqui e ali por recifes, ilhotas, arquipélagos e as cinco grandes superfícies em arco que ocupavam 2,5 mil quilômetros no Quadrante Noroeste do planeta. E todas essas erupções e bolhas de solo eram cobertas de árvores. Oceano: floresta. Em Novo Taiti, essas eram as opções: água e sol ou escuridão e folhas.”

Embora o planeta encantasse os humanos, a visão utilitarista que orientou a colonização da América será aplicada lá. Seus habitantes eram pacífico. Ele não conheciam a guerra. Gostavam de sonhar acordados. Mas foram massacrados e afastados das florestas que protegiam. Suas mulheres foram estupradas. Aqui, aflora o feminismo de Ursula. Os pacíficos pigmeus verdes aprendem a ser guerreiros com os humanos e os vencem numa gigantesca batalha. O único humano que tinha interesse em conhecer a cultura dos nativos morre. Verdes e brancos fazem um acordo de armistício. Aqui, a ficção meio distópica de Ursula não acompanha mais a história da ocidentalização da Terra.

Era difícil ganhar notoriedade escrevendo textos referenciais, poesia o prosa nessas quatro circunstâncias: ser mulher, ser negra, viver nos Estados Unidos, escrever nos anos de 1920. Nella Larsen conseguiu superar todas essas barreiras e se transformar num dos mais expressivos nomes literários da Renascença do Harlem, movimento literário formado por escritores negros. “Identidade” é um romance dela publicado em 1929, mas só lançado no Brasil em 2020, quase cem anos depois (Rio de Janeiro: Harper Collins). Filha de mãe dinamarquesa e pai caribenho, Larsen tinha traços brancos, mas pele negra.

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